sexta-feira, 25 de setembro de 2009

OUTDOOR


Outdoor. A tradução literal é “fora de portas”. Em português de 2009 o sentido mais correcto será mesmo simplesmente “fora”. No calão com que todos nos entendemos, muitos dos outdoors aqui reunidos são mesmo “fora”. Fogem do nexo, correm para longe do bom gosto, escapulem-se da estética, escapam às regras da comunicação, fazem momices à política…


Houve tempos de recato em que muitos partidos forneciam um lay-out fixo aos seus candidatos o que assegurava uma contenção de conteúdos mas que, certamente, nos privavam cruelmente dos momentos de surpresa que agora podemos deparar num passeio fora de portas. Especialmente as candidaturas autárquicas, servidas por um sem número de aprendizes de feiticeiro das artes do marketing político, acotovelam-se na tentativa de garantir um lugar de honra da galeria do ridículo involuntário. Que me perdoem os visados, mas há cartazes que mostram quão subestimada é ainda a educação ambiental que nos manda não gastar papel indevidamente.


"Pelo que se entende, é candidata à presidência de um lar da terceira idade"

As imagens são muitas e variadas. Dificilmente conseguirei esquecer a de Jovita Ladeira, à cabeceira de senhor acamado. Pelo que se entende, é candidata à presidência de um lar da terceira idade, e zela para que os eleitores cheguem ao dia das eleições. Fica-me na retina Mesquita Machado, com um moreno que podia ser publicidade de um solário e a cara daquele senhor que enche o cartaz com um “vocês conhecem-me” que deixa cheio de culpa porque não me lembro de onde. E que dizer de Avelino Ferreira Torres no seus três fatos? Um clássico.


"E que dizer de Avelino Ferreira Torres no seus três fatos? Um clássico."


 Mas fiquemo-nos pelas palavras, essa coisa chata que se têm de por ao lado do candidato. Há os que se entregam a uma profusão exclamativa que ribomba heroísmo: “Um por todos”, “Com valentia e sem amarras”, “Acima de Mangualde SÓ DEUS” , ou então, “Queijo Limiano é nosso”.


Mas há muitos mais que se limitam a prometer o mínimo que se espera deles: que façam alguma coisa. Ora vejam: “O meu compromisso: Fazer o que é preciso”; “Lisboa precisa de quem faça”; “Os outros prometem eu faço” “Melhor que dizer é fazer”; “Juntos pensamos e fazemos”.


"No calão com que todos nos entendemos, muitos dos outdoors aqui reunidos são mesmo “fora”."


A dominante é mesmo o sacrifício da inteligência dos eleitores no altar de La Palice: “A Saúde é um caso sério”; “Sempre Mais e melhor”; “Estamos prontos…” ; “Somos todos Albufeira”; “Viver melhor”; “Caminha Acreditar”; “Construir o futuro” ; “Presente e futuro”; “Esperança e futuro”; “Funchal Cidade com futuro”.


De fora de qualquer catalogação fica os slogans de Valentim Loureiro ( “Pois é… mas, em Gondomar, os gondomarenses continuam a mandar!”) e Isaltino Morais ( “Eu voto na minha família”).


Quem disse que a politica era um aborrecimento?


David Pontes, Director adjunto da agência LUSA

1 Comentário:

Anónimo disse...

É aborrecida a partir do momento em que as personagens são sempre as mesmas!

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